Entre 7 e 9 de outubro, retornei à NABSA Conference após participar da edição de 2018, em Portland-OR. Anos depois, foi interessante estar no evento em Filadélfia-PA. Para quem não conhece, a North American Bikeshare & Scootershare Association (NABSA) é uma organização sem fins lucrativos que fornece recursos, educação e advocacy para a indústria de micromobilidade compartilhada, conectando setores público, privado e ONGs.
Para quem é da América do Sul, pode parecer distante uma associação que congrega a indústria de bicicletas e patinetes compartilhados. No Brasil, as empresas de bicicleta compartilhada ainda são poucas, e o cenário na América do Sul é semelhante. Em 2018, as empresas de patinetes compartilhados estavam no auge, e a NABSA ampliou seu escopo para incluir patinetes e outros dispositivos de micromobilidade. “Se cabe numa ciclovia, cabe na NABSA” é o lema.
Naquela época, a conferência impressionou pelo número de empresas de patinetes elétricos e pelas 80 milhões de viagens em micromobilidade compartilhada celebradas. Seis anos depois, os patinetes desaceleraram, mas as bicicletas elétricas cresceram e hoje representam 40% das viagens em bike sharing. Em 2023, a NABSA registrou mais de 170 milhões de viagens em 420 cidades na América do Norte.
Apesar dos números expressivos, o evento diminuiu e muitas empresas de patinetes elétricos também, como no Brasil. A cultura centrada nos automóveis dificulta a expansão em ambos os lugares. A desconexão com as mudanças climáticas e créditos de carbono é outro obstáculo. Isso é global, como mostra a carta aberta da coalizão PATH (Partnership for Active Travel and Health), que pede a inclusão de caminhar e pedalar nos compromissos climáticos. Assinada pelo Instituto Aromeiazero e 100 organizações, a carta afirma que “permitir que mais pessoas caminhem e pedalem com segurança e tenham acesso ao transporte público a pé e de bicicleta pode ajudar a reduzir as emissões de transporte pela metade até 2030”. Mesmo com o potencial da mobilidade ativa, a capacidade da bicicleta de reduzir emissões e gerar créditos de carbono não foi debatida na conferência.
Neste ano, tivemos a honra de ser a única organização da América do Sul a participar dos debates, representada por mim, Cadu Ronca, diretor do Aromeiazero. Durante a conferência, apresentei o projeto Mais Bicicletários, apoiado pelo Itaú Unibanco, que propõe implementar Centros Urbanos da Bicicleta próximos a estações de transporte de alta capacidade, com bicicletários gratuitos, comércios e bicicletas compartilhadas em áreas vulneráveis. Essa abordagem atraiu a atenção da plateia, destacando a capacidade do Brasil de oferecer soluções complexas para contextos desafiadores.
Um dos destaques do evento foi o foco no engajamento comunitário e na abordagem de DEIB (Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento, em inglês) nas discussões sobre mobilidade. As conversas ressaltaram a importância de incluir comunidades locais no plano de sistemas de transporte, garantindo que grupos marginalizados sejam ouvidos. Incorporar essas questões nas políticas de transporte é essencial para o sucesso de iniciativas como a Mais Bicicletários, pois fortalece a aceitação das políticas e enriquece as soluções, tornando-as mais adequadas às necessidades locais.
Foi interessante notar que, na América do Norte, vários operadores de sistemas de bicicletas compartilhadas são organizados pela sociedade civil, e muitos sistemas são financiados por subsídios governamentais, um modelo que pode inspirar iniciativas no Brasil.
Pedalando por Filadélfia, percebi uma realidade semelhante a das áreas urbanas brasileiras: as ciclovias perdem força ao se afastar do centro. A infraestrutura cicloviária é concentrada nas regiões centrais, enquanto bairros periféricos têm foco maior no automóvel e opções limitadas de transporte público. Isso desencoraja a mobilidade ativa e limita a integração sustentável das comunidades.
A participação do Aro na NABSA Conference foi uma oportunidade valiosa para aprender, compartilhar e inspirar ações que promovam uma mobilidade mais inclusiva e sustentável, com foco no engajamento comunitário e na diversidade.
Cadu Ronca, diretor do Instituto Aromeiazero
English Version:
Aromeiazero at the NABSA Conference: Advances and Challenges in Urban Mobility
From October 7 to 9, I returned to the NABSA Conference after attending the 2018 edition in Portland, OR. Years later, it was interesting to experience the event again, this time in Philadelphia, PA. For those unfamiliar, the North American Bikeshare & Scootershare Association (NABSA) is a nonprofit organization that provides resources, education, and advocacy for the shared micromobility industry, connecting the public and private sectors and NGOs.
For those in South America, an association that brings together the shared bicycle and scooter industry might seem distant. In Brazil, there are still few bike-sharing companies, and the situation across South America is similar. In 2018, shared scooter companies were booming, and NABSA expanded its scope to include scooters and other micromobility devices. “If it fits in a bike lane, it fits in NABSA” is the motto.
At that time, the conference impressed with the number of electric scooter companies and celebrated 80 million shared micromobility trips. Six years later, scooters have slowed down, but e-bikes have grown, now representing 40% of bike-share trips. In 2023, NABSA recorded over 170 million trips in 420 cities across North America.
Despite these impressive numbers, the event has scaled down, and many electric scooter companies, similar to those in Brazil, have also reduced in size. The car-centric culture makes expansion challenging in both places. The disconnect with climate change initiatives and carbon credits is another obstacle. This is a global issue, as demonstrated by the open letter from the PATH (Partnership for Active Travel and Health) coalition, which calls for the inclusion of walking and biking in climate commitments. Signed by Instituto Aromeiazero and 100 other organizations, the letter states that “enabling more people to walk and cycle safely and to access public transport by foot and by bicycle can help cut transport emissions in half by 2030.” Despite the potential of active mobility, the ability of bicycles to reduce emissions and generate carbon credits was not discussed at the conference.
This year, we had the honor of being the only organization from South America to participate in the discussions, represented by myself, Cadu Ronca, director of Aromeiazero. During the conference, I presented the Mais Bicicletários project, supported by Itaú Unibanco, which proposes creating Urban Bicycle Centers near high-capacity transport stations, featuring free bike parking, local businesses, and shared bikes in vulnerable areas. This approach drew the audience’s attention, highlighting Brazil’s ability to offer complex solutions for challenging contexts.
One of the event’s highlights was the focus on community engagement and the DEIB (Diversity, Equity, Inclusion, and Belonging) approach in mobility discussions. Conversations emphasized the importance of including local communities in transportation system planning, ensuring that marginalized groups are heard. Incorporating these issues into transport policies is essential for the success of initiatives like Mais Bicicletários, as it strengthens policy acceptance and enriches solutions, making them more suitable to local needs.
It was interesting to note that, in North America, many bike-share system operators are organized by civil society, and many systems are funded through government subsidies, a model that could inspire initiatives in Brazil.
Biking through Philadelphia, I noticed a reality similar to that of urban areas in Brazil: bike lanes lose strength as you move away from the center. Cycling infrastructure is concentrated in central areas, while peripheral neighborhoods are more car-oriented and have limited public transport options. This discourages active mobility and limits sustainable community integration.
Aromeiazero’s participation in the NABSA Conference was a valuable opportunity to learn, share, and inspire actions that promote more inclusive and sustainable mobility, focusing on community engagement and diversity.”
Cadu Ronca, director of the Aromeiazero Institute